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| eu e tia Dalva no Natal de 2008 |
Foi ideia de uma pessoa que eu admiro muito, uma amiga.
Ela me disse para começar a escrever. Ordenar meus pensamentos no papel e assim, sairiam ótimas crônicas . Daí eu pensei em fazer um blog anônimo e começar a publicar histórias do dia a dia da minha vida sem dizer quem eu era (vai que não fica tão bom rsrssr, assim pelo menos não digo que fui eu quem escrevi hahah).
Logo pensei em mais um trabalho, criando outro blog e em vez de me dar prazer poderia me estressar. Me lembrei de que o meu blog se chama “Descortinando horizontes” e o meu leque é grande. Meu foco é viagens, mas, posso escrever sobre o que eu quiser. Primeiro porque eu sou a autora e editora do blog, segundo porque escrever sobre e viajar no meu dia a dia e das pessoas à minha volta também é descortinar novos horizontes.
Então decidi abrir essa aba no blog. Pelo menos por enquanto. Sem compromisso, apenas para quando eu tiver vontade de extravasar o que estiver pulsando dentro de mim, por causa de alguma situação inusitada, interessante, enfim, que eu possa dividir com vocês.
As histórias, como essa que conto nesse post, são reais.
As histórias, como essa que conto nesse post, são reais.
Se eu achar que devo abrir outro blog para tal, eu aviso e abro. Ou fico anônima! Vamos à nova experiência.
A Janela
Ele pediu para se sentar proximo à janela. Já estava pedindo desde cedo. Ela concedeu ao seu último desejo, mesmo nem imaginando que era o último.
Ele queria ver o sol, as aves, as árvores, o jardim em frente ao prédio. Possivelmente contemplar a criação de Deus. O vento. Sentou-se na cadeira de sempre. Aquela que costumava quase queimar quando fumava um dos vários cigarros diários, enquanto esperava pelo retorno de Dalva do trabalho.
Dalva se sentia culpada por reclamar com o homem que amava, no momento em que chegava no lar, temendo um incêndio proveniente dos furos de cigarro na poltrona. Não eram os furos ou sujeira das brasas de cigarro que a incomodavam. Era o medo do fogo incendiar tudo e levar seu amado embora.
Ela nao sabia se ele percebia seu amor e cuidado. Ele tinha câncer. Há dez anos atras, o medico lhe deu três meses. Mas a vida transcorreu e transpôs os limites. Aos 72 anos, Otto não parecia sofrer.
Naquela manhã ele se sentou na poltrona ao lado de Dalva e se declarou. Ela ficou muito feliz de ouvir diretamente dele o quanto ele a amava, o quanto ele reconhecia que viveu mais, por causa do carinho dela. Ele disse lindas palavras e não parecia se despedir, mas parecia abrir seu coraçao para sua amada.
Ela se alegrou e chegou a brincar: ” declaracao de amor logo de manha, querido?” o sorriso invadiu a janela.
Esse momento ficou marcado. Faz mais de 20 anos e as palavras de Dalva ainda denotam muito amor. Naquela manha Otto voltou para seu quarto e se deitou. E se foi. Em paz. Ela sabia que ele nao estava mais la.
Mas estaria com ela para sempre.
Melissa Zorzanelli
Tia Dalva é irmã da minha avó Heny e tem 87 anos. Fiz uma visita a ela ontem à tarde. Ela me contou esse momento de sua vida. Resolvi escrever a minha primeira crônica, pois eu achei que precisava dividir a sua bela história. Ela autorizou e se sentiu honrada. Se emocionou quando eu li para ela ao telefone hoje. Me disse que foi exatamente assim, o primeiro homem de sua vida. Pretendo visitá-la mais vezes. Ela tem muito o que contar.
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