Começa de forma estranha e até mesmo chata. Com o tempo, você percebe que o filme está numa tela menor.. com espaço para os lados e a sensação de aperto é sentida nitidamente. Muito bem colocado pelo diretor, pois é a mesma sensação que vai te dando ao assistir ao filme.
O tema é uma mãe viúva com um filho hiperativo e por vezes violento. O retrato de uma vida simples em família, um dia a dia de uma adulta/jovem mulher ao cuidar de seu filho que tem problemas. Ele estava num reformatório estudando mas causou um incêndio na cafeteria e foi expulso. E agora? Ele terá que viver com a mãe em casa, pois parece não restar mais opções para um menino tão rebelde. E é aí que podemos acompanhar o dia a dia de uma mãe solteira criando um filho desbocado, hiperativo e problemático.
O filme é canadense e se passa em Montreal, onde a fala é francesa. O diretor, um jovem de 25 anos, muito inteligente, Xavier Dolan, que se utiliza muito bem dos clipes em certos momentos do filme para passar um ar de aventura, pois é mesmo uma aventura criar um filho com este tipo de problema. Fiquei a pensar se eu conseguiria. Dizem que quando a gente é mãe, nos transformamos em um ser que aguenta coisas que nunca imaginaríamos ser possível, por isso não duvido, mas o filme me trouxe angústia e sufoco por todo o tempo. A cena em que ele ataca a mãe me deu tensão, mas nada comparado à violência dos “enfermeiros” da clínica quando tentam imobilizá-lo, apenas porque não quer ir. Não posso criticar essa mãe que tomou essa decisão a certa altura.
A vizinha é ponto fundamental para o equilíbrio dessa relação. Se você perceber sutilmente, ela perdeu seu filho, há dois anos e perdeu também a fala. Não sabemos o que aconteceu e se o marido dela faz parte disso, ou o porque da relação deles não ser muito mostrada. Mas a cena dela olhando na janela a mãe e filho do outro lado da rua enquanto sua outra filha precisa de ajuda nos deveres da escola também é forte. Ele morreu e ela não consegue se dedicar a quem ficou. A sua filha precisa dela, mas ela não consegue… quantas histórias existem assim. Um ente importante se vai, importantíssimo, não estou por essa fala tirando a importância de pessoas em nossas vidas, mas e quem ficou? Existe uma vida a ser vivida ainda. Mas a pessoa não consegue. Kyle melhora nitidamente a gagueira enquanto está ajudando nos estudos de Steve. E se permite ter uma vida novamente, apesar de não incluir o resto de sua família nela.
Não imaginei hora nenhuma que fosse me emocionar, mas esse filme traz muitas reflexões quando você presta atenção. Me remeteu muito a pensar na família, no nosso dia a dia muitas vezes tenso. Nas brigas desnecessárias e em quanto isso não destrói a relação por completo. Mas é claro que destrói. Digo em relação ao amor, ele existe e continuará ali, mesmo após um desentendimento muitas vezes que começou com algo banal. Fiquei observando isso no filme. Em como é ser “mãe de menino” e mãe de menino com problemas.
Tenho tido dificuldades de lidar com um conhecido recentemente diagnosticado com um problema sério de saúde emocional. Fico pensando se eu fosse a mãe dele, como eu reagiria, se eu conseguiria ter essa diversão que a mãe de Steve tão sabiamente tinha para poder ter uma ida mais leve. É um filme reflexivo. Enquanto estava lá senti falta da minha família. Nos amamos apesar de todas as diferenças e na verdade, similitudes fortes que temos. Estivemos juntos pela manhã, mas senti falta.
E chorei na parte do filme em que a mãe sonha com o futuro do filho, um futuro normal, com uma formatura, namorada, casamento dele e filhos, enquanto ao mesmo tempo as frases do passado vão passando na tela.. misturando um passado real a um futuro imaginário e quem sabe ilusório praquele momento. Mas eu sonharia também. Foi um momento forte e me arrancou lágrimas. A essa hora a tela estava grande, mas não percebi de imediato. As coisas estavam mais claras, mais no lugar e a tela acompanhou a história mas o sufoco eu ainda sentia. E que heroína essa mulher. Pela forma como lida e cria seu filho.
Uma realidade não sentida nem vista por quem nao passa por isso. Achei importante retratar essa experiencia de vida no cinema. Gostei e me emocionei e muito. Me surpreendi.
Este filme ainda não está à venda na Livraria Cultura. Comprando neste site você dá comissão ao blog e não paga nada a mais por isso. Ainda está em cartaz nos cinemas.